- Quero ouvir e escrever o que você gostaria de falar para as pessoas das nossas redes sociais e todas as outras.
Foi assim que comecei a conversa com Wera Mirim na casa de reza que os Guarani possuem aqui na Aldeia Multiétnica. Ele estava sozinho, enquanto os outros lanchavam. Como cacique da Aldeia Rio Silveira, na divisa entre Bertioga e São Sebastião, no litoral norte de São Paulo, ele sabe como ninguém o que precisa falar. E ele falou, falou muito.
- O novo caminho é a valorização da cultura indígena. Respeitar a cultura de todos e de todos os povos. Se a gente não conhece, a gente não respeita. Existe um grande preconceito com a cultura indígena, se você não conhece você acaba falando mal. Aqui no Brasil não tem esse respeito. As pessoas estão acostumadas com a imagem do índio de séculos atrás. Se eu saio na rua com pintura no corpo, escuto que Índio tem que viver na mata. Se usa roupa normal, se tem carro, dizem que não sou mais indigena.
E ele seguiu falando. Lembrou de como o índio até pouco tempo era considerado incapaz e precisava ser tutelado como se não fosse independente e autossuficiente. Comentou sobre as ações do governo que chegavam até a aldeia e não eram continuadas. E mostrou incômodo com as ações que não incentivam a autonomia dos indígenas.
Os indígenas têm que se formar em todas as profissões, em direito, precisamos de professores… Meu sonho é conseguir autonomia, caminhar com as nossas próprias pernas, nós somos capazes. É uma autonomia através da educação.
- Wera, e qual é o seu nome em português?
- é Adolfo Timóteo.
- Ah, obrigada. Vou colocar esse seu nome também. E agora, com quem posso falar um pouco?
Ele nos levou até uma de suas filhas, a Para Mirim. Explicou o que acontecia e ela veio nos receber. Essa será a nossa próxima conversa.