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Towê: um ser que nasceu pronto
16//07/2022 | Por Sinvaline Pinheiro | Foto: Thiago Daher
O povo Fulni-ô de Águas Belas, cidade do interior de Pernambuco, tem uma extensa história de resistência.
Dentre eles, destacamos a figura forte de Towê. Quando criança foi entregue aos avós. Cresceu no ambiente de conhecimentos ancestrais que eles repassaram. No ano de 1995, aos 13 anos de idade, junto ao irmão mais velho Santxiê, foram levados pelos jesuítas para estudar no Rio de Janeiro. Santxiê logo entrou para o exército e Towê, sem receber assistência dos jesuítas, se viu só em um quartinho a desafiar as ruas da capital em busca de sobrevivência.
Numa época de ditadura, foi discriminado como criança indígena entregando folhetos políticos para Juruna, Brizola e outros. Ainda é capaz de sentir a dor das pedradas , do cansaço e da fome.
Santxiê, mais que um irmão, foi pai cuidador. E assim conseguia driblar a guarda e levar escondido na gandola um pedaço de pão e alguma fruta. Para receber esse alimento, Towê caminhava de Botafogo até a Urca todos dias e esperava até que chegasse a hora de poder receber o tão esperado lanche que seria a única comida do dia. Guarda com carinho o nome de Seu Souza, um português cego, vizinho de quarto que lhe ofereceu comida e em troca seria seu guia pelas ruas do Rio. Como guia de cegos ele podia garantir sua alimentação.
Foram muitos desafios. Sempre amparado pela personalidade forte do irmão-pai Santxié, que conseguiu baixa no quartel para cuidar do irmão. Com esse apoio conseguiu fazer o curso MOBRAL (Movimento brasileiro de alfabetização), aprender artes marciais, trabalhar em gráfica e até ser balconista de uma farmácia de floreomeopatia. Até hoje considera a importância desse trabalho que oportunizou relembrar o que já conhecia, aprender mais e ler receitas espirituais.
Em buscar de aperfeiçoar a espiritualidade indígena advinda do seu povo e muito mais do que tirava das horas ao pé do fogo ouvindo o avô, que havia previsto há décadas toda sua luta. Mais tarde, aos 60 anos de idade, já na aldeia, conseguiu terminar o ensino médio. Guiado e consagrado, se tornou defensor das causas indígenas. Aos 19 anos de idade se casou com Marina uma carioca com quem tem 2 filhos e 4 netos. Para ele foi um casamento de corpo e alma.
Após um tempo vai com os filhos para Brasília e junto com o irmão Santxie se instala em uma área de cerrado preservado no Setor Noroeste no DF. Esse local recebeu o nome de Santuário dos Pajés porque se tornou o ponto de encontro de lideranças de todo o Brasil que vinham a Brasília se hospedaram lá. Nomes tais como Aritana, imi, Juruna, Spain, e tantos outros ali se reuniam para descutir as questões indígenas.
Com o tempo, Towê foi entristecendo pela luta ferrenha e discriminatória aos povos originais. Se sentiu depressivo e voltou para a Aldeia com família. Suspira ao relatar como Santxiê foi definhando até morrer lutando pelo Santuário dos Pajés.
Hoje ele se sente no dever de ensinar aos mais jovens como enfrentar os desafios que virão para que não sofram como seus antepassados. Reafirma que a sabedoria indígena tem que ser difundida, que o mundo precisa aprender com os primeiros habitantes que a a terra é sagrada e cura os males do corpo e da alma.
Uma baforada no cachimbo e um suspiro, ele diz: "não somos donos da Terra, somos cuidadores e se não cuidar, essa terra vai nos cobrar muito caro".
Relembra palavras do avô: "quando as teias de aranha (fios de eletricidade) passarem por cima de nossa Aldeia, vai ter muita mudança e brigas, muito sofrimento"
Towê considera estar vivo pela espiritualidade que sempre conservou. Como dizia seu avô, ele tem a força. Sim, tem a força na voz, no corpo e na aura que transparece quando pintado dança e canta inebriando multidões. Então Towê, você NASCEU PRONTO.