Vi ela ali ao lado de cestos e artesanatos enquanto uma das anciãs da aldeia pintava alguém. Perguntei se ela tinha feito algum dos cestos, mas ela disse que ainda não sabe. Não por falta de interesse, mas é que ainda não aprendeu depois das duas aulas que a mãe lhe deu. A cestaria é um dos artesanatos mais tradicionais dos Krahô/Mehim.
- Qual seu nome indígena?
- Meu nome é Capêrcahãc. Sabe o que significa? Significa bacaba, uma fruta que a gente come. Parece açai, sabe? A gente espera quatro meses para ficar pronta (pra consumo).
- É doce?
- Não, é mais azedinha. A gente deixa cozinhar entre 10 ou 20 minutos para amolecer e faz um suco para comer com beju, farinha… se quiser pode colocar açúcar.
- Nossa, são tantas frutas e plantas que não conhecemos. Já aprendi sobre várias falando com os povos.
- E você está gostando da aldeia?
- Estou gostando muito, é a minha primeira vez aqui. Sempre ouvia os outros dizendo que vinham pra cá e eu queria saber que lugar era esse. Estou vendo povos que eu não conhecia. Eu conheci o pessoal do Alto Xingu que eu só via por foto.
Capêrcahãc é daquelas pessoas de boa conversa. É estudante de enfermagem e está no quarto período do curso para assim que se formar começar a trabalhar na aldeia.
- Muitas vezes as pessoas vão ao posto de saúde e não entendem o que eles dizem, porque a pessoa não fala a língua delas. Então é importante ter enfermeiros na aldeia. Mas tem pouco espaço para trabalhar, é preciso melhorar muito.