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Preservação do cerrado e resgate das sementes tradicionais é tema de roda de prosa

10//07/2023 | Por Narelly Batista | Foto: Raissa Azeredo

Neste domingo (10), foi realizada a roda de prosa sobre a conservação das sementes e proteção da biodiversidade. A agenda contou com a participação de Terezinha Dias e Marcelo Brilhante, da Embrapa, os líderes  Aprak Krahô, Kukõn Krahô, Isaac Kayapó, Benjamin Kayapó, Tanoné Kariri Xocó, Sumené Xavante, Anabele Gomes (Rede de Sementes do Cerrado), Claudomiro Cortes (Cerrado de Pé) e o indigenista Fernando Schiavini. 

Na oportunidade, Terezinha Dias apresentou as ações da Embrapa de resgate das sementes crioulas, que não por acoso, vai de encontro com o início das Feiras de Sementes, uma estratégia iniciada pelo povo Krahô que tem fortalecido ações de preservação e conservação da biodiversidade brasileira.

De acordo com os relatos das lideranças Krahô e da pesquisadora Terezinha Dias, "apoiados pelo indigenista Fernando Schiavini, em 1994 os caciques Krahôs foram até a Embrapa em Brasília para resgatar as sementes agrícolas que estavam em escassez em suas aldeias". Desse resgate surgiram as primeiras feiras de trocas de sementes em 1997. Prática que influenciou também as políticas de agroecologia. Para o povo Krahô, as sementes também fazem parte de sua cosmovisão. Elas são o presente da estrela Caxêtw’y ao povo Krahô.

Quem também participou da conversa, foi Anabele Gomes, da Rede de Sementes do Cerrado. A ONG foi criada em 2021 a partir da dificuldade em encontrar sementes para restauração. A organização trabalha na cadeia produtiva de sementes nativas, fortalecendo os grupos de coletores e fazendo a ponte entre  universidades, o mercado de sementes e o trabalho de restauração.

Durante a conversa, Anabele reforçou que os saberes tradicionais são fundamentais para a restauração das sementes. Segundo ela, "a baixa demanda de restauração comparada ao que foi firmado no acordo de Paris, em que o Brasil se comprometeu a restaurar 12 milhões de hectares até 2030 é uma grande preocupação".

Para combater esta realidade, Anabele falou sobre a bioeconomia gerada pelas sementes nativas dos povos originários, defendeu o domínio das sementes tradicionais e pontuou as dificuldades para executar os projetos de restauração, a dependência da articulação políticas para que as coisas aconteçam e o engessamento da legislação de sementes nativas para restauração. 

Claudomiro Cortes, da Associação Cerrado de Pé, falou da sua experiência como brigadista e da importância da restauração e preservação do cerrado. De acordo com ele, "a pastagem descaracteriza o cerrado e favorece os incêndios". A sua associação iniciou o trabalho com sementes em 2009, mas só em 2012 teve a primeira família na coleta de sementes. O tempo passou e em 2017, a associação atingiu 66 famílias em território Kalunga coletando sementes. Um marco que ele se orgulha. Claudiomiro deixou detalhes de um sonho coletivo da associação: “queremos plantar sementes na mesma quantidade de estrelas do céu”.

Marcelo Brilhante, representante da EMBRAPA, ressaltou que a coleta e a preservação das sementes em câmara fria, não basta, a discussão sobre as sementes tradicionais é muito mais ampla e envolve outras questões como o avanço do Agronegócio e a devastação, constatada via imagens de satélites. Estudos mostram o aumento da temperatura no cerrado e a diminuição da umidade como consequência das mudanças climáticas, o que compromete a formação de orvalho que por sua vez ameaça o bioma do cerrado goiano. Esses impactos climáticos anunciam a passagem do cerrado para uma formação mais árida.

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Um projeto da Casa de Cultura Cavaleiro de Jorge.

Aldeia Multiétnica