Dentre os vários povos reunidos na Aldeia Multiétnica, todos com o mesmo intuito, transmitem em vários idiomas, rituais e cantos, a mensagem de um só povo, um só coração.
Do Canadá, região do Québec, vieram da Etnia Innu , Uauietilu, Kate e especialmente da etnia Wolastoqiyik a indígena Ivanie Aubin-Malo. Uma moça que vive sua cultura na responsabilidade de transmiti-la aos mais jovens, após receber espiritualmente através de uma serpente o questionamento e uma música ancestral. A experiência transformou sua vida e hoje vive forte a espiritualidade, repassando os conhecimentos para os mais jovens com muita garra.
São 2.500 pessoas nessa comunidade e mais 7 comunidades diferentes. Até então idenficavam suas raízes através de símbolos e grandes inscrições em antigos barcos e vestimenta usados num passado distante. A musicalidade é bem forte entre eles, isso foi demonstrado na leveza da dança e canto de Ivanie na XVI Aldeia Multietnica. Flutuando no centro da aldeia com seus típicos trajes brilhantes e voz firme, emocionou uma multidão e encheu a aldeia com o canto da serpente.
Ivanie não segura emoção quando diz do encontro com a música da serpente. Foi um dia quando fazia o trajeto entre a aldeia e a universidade e ouviu um canto à margem do caminho. Parou em meio ao pequeno bosque para ouvir aquele som que não sabia de onde vinha, mas lhe tocava a alma. Continuou estacionando nesse mesmo local e a música se fazia cada vez mais forte.
Certo dia percebeu algo sob seus pés que não conseguia ver, mas podia sentir espiritualmente duas serpentes ali. Entre alegria e choro, conseguiu assimilar bem as palavras dessa música. Levou para um líder do povo e para pessoas mais velhas e soube que era a música da serpente, um novo canto que seguia toda a ancestralidade do seu povo. Começou a canta-lo, divulgando entre os parentes e outras comunidades, mas a confirmação desse recado invisível foi no dia que se viu diante de uma serpente enrolada à sua frente, e pode observar que sua pele tinha manchas idênticas às marcas do seu povo. Sem medo se sentou perto dela e começou a cantar a música que recebera. A serpente imóvel pareceu ouvir todo o canto para depois se ir bem devagar, enquanto Ivanie ouvia uma voz dizendo "onde está seu povo Wolastoqiyik?"
Foram minutos eternos que marcaram o porquê dessa interrogação e da canção que se tornou um canto sagrado confirmando toda a magia e força espiritual da voz, simbolizando um recado da busca pela ancestralidade vivida.